Tuesday 16 September 2008
Saturday 13 September 2008
A Oliveira
Guadiana aberto... É agua por perto
Mas não vai chover porque faz muito frio, diz o meu avô e no céu ainda escuro brilho as constelações com uma claridade qualidade cristais de geada. Das janélas do edifício de onde se preparam para sair e iniciar a viagem os astronautas verão a luz do amanhecer incinuar-se sobre o orizonte do Atlatlântico e perguntar-se-ão se esse dia que começa será o último das suas vidas.
Se shovesse em algum dos dias destas férias eu poderia ficar na cama até bem entrada da manhã. Quando não shove, é trabalhar um dia a seguir ao outro, sem nunca se ter descanso, nem no Natal nem no ano Novo: acaba-se de apanhar a azeitona de uma oliveira e passa-se para a seguinte, e há sempre pela frente mais uma fileira que parece nunca mais chegar ao fim.
O quadriculado dos olivais prolonga-se até se esbater no horizonte do mesmo modo que os caminhos a transbordar de azeitoneiros.
Enquanto varejam os homens falam sem descanso de herdades de numeros de oliveiras, das centenas de milhares de quilos de azeitonos que no olival que um olival deu na semana passada. Riem-se à gargalhada, repetem gracejos que são os mesmos que hãn-dizer amanhã e para o ano que vem e oa mesmos que diziam há dez ou vinte anos, sobem os troncos, dão golpes tremendos e ao mesmo tempo muito calculados nos ramos para que a azentona se desprenda deles sem se estragar, acendem os cigarros que lhes ficam apagados entre os lábios, limpam das botas a lama que se pega às solas, puxam em uníssono as mantas carregadas de azeitona.
A árvore é uma divindade austera e resistente aos golpes das varas, um organismo de uma robustês tosca, quase mineral, adaptado aos extremos do clima, à escassez de água, ais gelos do inverno, com um tronco duro e rugoso em cujo interior parece impossivel que circule seiva, com o volume e a textura de uma roxa ou uma corcova de bizonte, com raíses tão fundas que são capazes de alcançar as humidades mais escondidas da terra, com as folhas pontiagudas, com o verso lkkverde- escuro o reverso de um sinzento de poeira, folhas pequenas e curvas a fim de resistirem à extrema secura do ar reduzindo a evaporação ao mínimo.
Plantadas em fileiras paralelas, a igual distância umas das outras, sobre geometria seca que só na distância se ameniza, quando a bruma azulada e a sucessão enormes proporciona uma meragem de frondosidade. De perto são figuras, bravias altivamente izoladas entre si, de uma longevidade e de uma envergadura que tornam de triviais as pessoas ínfimas que se afadigam à volta delas, arrastando-se pela terra para recolherem os seus frutos, empenhando todas as suas forças e todas as suas ambições, as energias inteiras das suas vidas, em troca um benefício escasso e inseguro, que nem sequer é de todo generoso nem nos melhores anos de abundância, excepto para os donos dos grandes olivais. Uma colheita que se anuncia boa quando no final da Primavera irrompem os cachos de flores amarelas malograr-se-á se não chover a tempo esse ano ou se no princípio do inverno caírem geadas demasiado fortes.
De coisas falam os homens enquanto varejam, ou quando descansam ao meio-dia para comerem à volta do lume - de geadas, das secas de quilos de azeitona, de toneladas de azeite,
de olivais de regadio ou de sequeiro, de olivais comprados ou vendidos, herdados malbaratados pela má cabeça de um herdeiro inútil ou de proprietário de terras dominado pela paixão do jogo. ao longo do dia vão subindo até Mágina pelos caminhos récuas de machos e de burros e de carros carregados com sacas de azeitona que depois são despejados nos grandes depósitos de lagares, formando rios que sobem e descem pelas grandes peneiras mecânicas, pirâmedes enormes, montanhas desse fruto negro, violeta, verde-escuro, de pele brilhante, que rebenta se é pisado ou batido, que nos dá o azeite com que cozinhamos, cujos ossos partidos e carbonizados são o combustível das brazeiras com que nos aquecemos, do mesmo modo que a lenha das nossas fogueiras é a da rama da árvore e que o dinheiro com que subsistimos a maior parte do ano é o das jornas.
- Rancho da azeitona altaneiro,
dela apanhaste quantos alqueires?
- Por causa de chuva, só um e meio.
Venho tão cansado e se me fecham os olhos. Dói-me os joelhos as mãos e o rins, de tanto ter andado debruçado por cima da terra. Só desejo chegar a casa e sentar-me ao calor da braseira. A desolação de pensar que amanhã antes do amanhecer voltarão a fazer-me levantar vence em mim até mesmo a expectativa de ligar o rádio e de saber como foi a descolagem da Apolo VIII.
Dou então por umas pontadas frias no rosto, como picadas leves, como um roçar de patas de pássaro: por cima dos telhados o céu pos-se liso e muito branco, como se um explendor pálido corresse filtrado de dentro das nuveins. Com um sobressalto de felicidade descubro que começou a nevar: Os flocos quase impercéptíveis excepto pelas suaves pontadas que sinto no rosto, fazem torvenilhos silenciosos à volta dos candeeiros das esquinas. Esta noite, quando assomo à sacada antes de me deitar, o vidro fica embaciado com a minha respiração, e os quintais da casa de Baltasar e os telhados do bairro de San Lorenzo estão cobertos de neve, e os flocos são tão densos que não se avista na distância o val do Guadalquivir.
Aninho-me na cama, sem tirar a camisa, nem as meias,e o calor do meu corpo vai dissolvendo o frio dos lençóis e envolvendo-me como os fios do bicho-da-seda dque vai tecendo o seu casulo. Esgotado, protegido, absolvido, sabendo que graça à neve não terei de madrugar amanhã, mergulho no sono como se flutuasse no espaço bem protegido do fato espacial e do escafandro, ligado à NAVE por um longo tubo de plástico branco, enquanto os flocos de neve surgem em turbilhões de esciro e batem silenciosamente contra o vidro gelado da minha janela.
Falar para as minhas Oliveiras
Que bem hablan
Boa-Sorte
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